Fanfic da Semana: A Espera


Estilo: Oneshot
Autor: Natália Muniz
Shipper: Ariadne & Dionísio
Read in English here

A dor era um sentimento desconhecido, tão inexplorado ainda, que eu ainda não sabia lidar com ela.
Quando eu despertara de meu cochilo, pude ver seu barco ao longe, quase desaparecendo no horizonte. Meus olhos se encheram de lágrimas, e talvez pela primeira vez na vida eu senti dor. Não a dor que você sente ao cair e se machucar; uma dor diferente, que eu nunca havia sentido antes.
Nada mais me restava além da pequena ilha de Naxos. A minha última moradia, o lugar onde eu daria o meu último suspiro antes de sucumbir à fome, ao calor, ou a algum animal que subitamente resolvesse que a minha hora chegara.
Como eu pude ser tão estupidamente tola? Ele me enganara direitinho, com suas promessas falsas de se casar comigo e blábláblá. Eu devia ter percebido que ele estava totalmente abobado com a possível fama que ele teria ao chegar a sua terra natal, e como o seu pai ficaria orgulhoso, que ele simplesmente não ligaria para mim. E quando ele chegar lá, será recebido com louros, enquanto eu apodreço nessa ilha.
Meu pai certamente não me aceitaria de volta, não depois do que eu havia feito. Mas havia a pequena chance de tentar voltar – de algum modo eu teria que sair da ilha - e ter a cabeça servida na hora do jantar como prato principal.
É, grandes chances.
Na verdade, eu não sei quanto tempo eu fiquei ali, encolhida no lugar que antes eu estivera adormecida. Acho que até cochilei, porque em meus sonhos, vi uma mulher de beleza incomparável. Ela dissera-me que eu teria um amante imortal, mas se até um mortal não me queria, por que um imortal iria querer?
“Alô?”
Não abri os olhos. Era impossível que existisse alguém mais naquele lugar. Ou será que alguém viera me buscar?
Não, ninguém faria isso.
“Err, acorde. Isso, acorde. Seria bom. Quero dizer, a menos que esteja morta.”
Abri um pouco os olhos, e deparei-me com um homem de cabelos negros cacheados e nariz vermelho, com uma expressão preocupada no belo rosto.
Tá, não, ele estava é querendo sair dali.
“O que voc...”
“Ah, não morreu. Ótimo. Vá embora.”
Fiquei observando-o de queixo caído enquanto ele saía andando tranqüilamente pela praia.
“Ei!”, eu gritei. Ele se virou e olhou para mim.
“Sim?”
“Você não pode sair falando coisas assim para os outros!”
Ele olhou debochadamente para mim.
“Certo, mais alguma coisa, senhorita...?”
“Ariadne”, apresentei-me. “E você é...?”
Ele endireitou o corpo, como se fosse alguém importante.
“Dionisio.”
“Tipo o deus do vinho?”
Devo ter falado algo de errado, porque ele meio que me censurou com o olhar.
“Eu SOU o deus do vinho.”
“Ah, claro. Eu sou a Medusa, prazer.”, eu estendi a minha mão, e ele revirou os olhos. “Certo, certo. Meu nome é Ariadne.”
“Então, Ariadne, que tal eu te transformar em um golfinho e você ir nadando para casa?”, assim que ele disse isso, meus olhos voltaram a se encherem de lágrimas. “Se bem que Atenas é mais próximo e você pode... Hey, por que está chorando?”
Parecia que toda a dor que tinha sumido durante o sono tinha voltado subitamente. Lembrou-me que eu não tinha mais casa, que eu estava sozinha em uma ilha... Com o deus do vinho. Ah, ótimo.
Dionisio me abraçou, meio hesitante. Fiquei constrangida, e ele provavelmente deve ter ficado também.
“Ah, pára. Eu não gosto de ver moças chorando. Principalmente as bonitas e com um belo corpo, como você. Por favor, pare de chorar, Ariadne! Se... não... Eu vou... chorar... também!”, e para dar mais ênfase ao que disse, soluçou.
Devo dizer que, se não estivesse sofrendo, teria rido. E muito. Observe: Duas pessoas abraçadas, sentadas em uma posição dolorosa na praia de uma ilha deserta (pelo menos eu acho que era deserta) e chorando compulsivamente sem nem saber por quê o outro chora. Deuses, isso é completamente ridículo!
“Por que está chorando?”, perguntamos os dois ao mesmo tempo.
Ficou um silêncio horrível por alguns segundos.
“Primeiro você.”, eu disse.
Ele olhou para o céu, e eu o imitei; estava cor-de-rosa.
“Eu... Eu não sei”, sua voz estava rouca, e eu meio que senti pena dele.”Eu te vi chorando, e me deu vontade de chorar também. Como se a sua dor fosse minha... Entende? Se entender, me explique, porque eu não entendi.”
Eu fiz um som que ficou entre um soluço e uma risada, e ele riu também.
“Não... Não entendo.”, admiti.
“Certo”, ele começou a brincar com os dedos da minha mão, como se fosse a coisa mais interessante do mundo a se fazer. “Agora é a sua vez.”
E então eu contei tudo a ele, desde a chegada de Teseu-maldito ao palácio de meu pai até o nosso encontro ridículo aqui na praia. Pensei estar soando como uma boba apaixonada que foi magoada e blábláblá – resumidamente, estar sendo chata -, mas me surpreendi quando levantei a cabeça ao terminar de narrar a minha triste sina e ver que ele estava prestando atenção no que eu falara.
“Então...”, ele começou. “Ele matou o minotauro com a sua ajuda...”
“Certo.”
“... Prometeu se casar com você...”
“Correto.”
“... E te abandonou nessa ilha?”
Minha voz ficou embargada.
“Isso mesmo.”, sussurrei.
“Hmm...”, ele colocou o queixo entre o polegar e o indicador, como se estivesse pensando no que fazer.”Quer que eu o transforme em alguma coisa?”
Fiquei horrorizada quando ele sorriu como uma criança diante dessa idéia, e não me surpreenderia se ele começasse a se dar tapinhas nas costas.
“Não!”
“Adne, Adne”, ele deixou a minha mão de lado e começou a brincar com os meus cabelos, agora. “Ele não te enganou?”
“Sim.”
“Não te fez sofrer?”
“T-também.”
“Não te fez chorar?”
“Sim... E no final, a você também.”
“Pff. Ele não me fez chorar, você fez. Mas isso não vem ao caso. Homens que fazem belas damas chorarem merecem a morte. Você não quer se vingar dele, Adne?”
“Antes, sim... Mas quer castigo melhor do que conviver com peso na consciência?”
Dionísio parou para pensar.
“Tanto faz. Isso não te faz mais alegre.”
“Não.”, concordei.
“Só irei embora quando você ficar feliz. Quando você estiver com um sorrisão no rosto – um sorriso natural, Ariadne” , ele acrescentou ao me ver abrir o maior sorriso do nada. “eu te levo para a sua nova casa.”
Eu o encarei, cética.
“Minha nova casa?”, perguntei. “A que casa você se refere?”
Dionisio arqueou as sobrancelhas.
“O Olimpo, certamente. Minha noiva merece uma vida melhor depois de tudo o que aconteceu com ela.”, e sorriu maliciosamente.
Eu abaixei a cabeça e suspirei.
“Ah, bom pra vocês.”
Senti sua mão puxando meu queixo suavemente para cima, a fim de olhar para ele.
“Tola. Desculpe, Ariadne, mas você é meio tapada. Estou falando de você, oras.”, e então ele se afastou um pouco, e isso me deixou... Triste. “Mas só se você quiser.”, acrescentou.
Lembrei-me do sonho que eu tive, da mulher de incrível beleza falando do tal imortal. Mas Afrodite estava certa nesse ponto: ele era imortal, e eu não...
“E já que você é mortal, teremos que dar um jeito de você viver lá comigo.”, ele se levantou e começou a andar em círculos sobre a areia. “Acho que você terá que se jogar de uma torre, Adne.”
Eu guinchei de horror. Morria de medo de alturas.
“O QUÊ?”
“Estou brincando, Ariadne. Nossa, quanto senso de humor! Deve ser por isso que eu gostei tanto de você.”, ele parou de andar, pensativo. “Aah, tive uma idéia!”
Ele acenou e uma coroa de ouro cravejada em pequenas e frágeis pedras preciosas apareceu do nada, como se eu tivesse piscado e nesse meio-tempo a coroa tivesse aparecido na mão dele.
“Uau.”, murmurei, admirada
“E esse”, ele me entregou a coroa. “É o seu presente de casamento!”
Sabe quando você fica em tal estado de choque que você não consegue se mover, piscar, respirar, ou ao menos pensar direito? Eu estava exatamente desse jeito.
Ele estava olhando para mim, esperando uma resposta.
“E então?”, perguntou.
“Eu terei mesmo que morrer para... hã...”
“Di Immortales, Ariadne. Eu esperarei o tempo que for preciso pra ficar com você. Relaxe.”
E eu sorri. De verdade. Bem do jeito que ele queria.
Deve ser por isso que eu espero pacientemente ele retornar do acampamento. Tenho que retribuir do mesmo jeito que ele fez, uh? Esperando.

1 comentários:

que viciante HAHA, adoreei *-*

Postar um comentário